Trilha sonora: Hear Your Heart – James Bay
Gosto de ir para lugares que nunca estive antes. Quando os olhares são ainda estranhos. Os passos perdidos. As placas informativas. O tato curioso. Os olhos inquietos. Não param de escanear os arredores. Fascina. Essa sensação de turista. Fotografa a mesma coisa de mil ângulos possíveis. E vai interpretando cada medida. Minhas amigas costumavam reclamar quando viajamos juntas porque sou a chata das fotos. A do andar lento. Confesso que sou mesmo. Quero tudo registrado. Observar cada detalhe. Ler cada vírgula. Porque esse momento é sempre mágico. Atento. Faminto. Engole com pressa cada sustenido. Cuidadoso. Depois passa. Na próxima vez já se faz casa. Se esparrama, e não repara os detalhes. Tenho receio desse conforto todo que não se acalenta e faz mistério o mimo. Tem que ter carinho. A cada passo. Essa fina linha entre o desconhecido e o já familiar é tão breve. Eu gosto de ser turista. E fazer caricatura enquanto os traços se fazem mais nítidos e reconhecidos. Parece que até mudam as faces quando os passos se fazem automáticos. O efeito fade. É de casa. Pode entrar! Já sai largando os calçados pelos cantos já entra no quarto direto pra cama. Lá fora pela janela o pôr do sol chamando. Ligação perdida. Meu coração é turista que gosta de dar abrigo aos que sabem explorar e observar os rascunhos. O de casa tem seu encanto, de fato. A intimidade te dá colo, cafuné e comida de fogão a lenha. Aquece o coração. Mas convenhamos que nada faz o peito vibrar como mudanças boas, novidades que brotam num dia cinza, uma ligação fora de hora. Eu sempre atendo. É questão de dosagem, claro. Gosto dessas surpresas de fim de tarde. A carona pra uma conversa sobre teorias lunáticas. Planos de última hora, vamos? Agora! Depois dessas doses de adrenalina, coragem, respiro, pego fôlego, supero. Volto pro repertório e sigo o roteiro. Chego em casa, vou tirando os calçados pelo caminho e direto pro quarto, me jogo na cama. Escuto com calma minha playlist já batida. Visto meu pijama já velho. Paro pra ver as fotos do dia. Repagino. Relembro e escrevo. O que teve de novo. E o que teve de novo. Quero somas. E na minha conta matemática, só acrescento. O que afina meu olhar. O que me faz levantar da cama. Que descansa meus pés, mente e coração. Limpo as fotos que não gostei. Aprendo com o que não quis mas ouvi. Guardo as lições e beleza capturadas pelo andar. E continuo turista. Nasci escutando do meu pai “viva la vida”. Cresci fazendo isso valer. E sigo em busca do que faz o peito pulsar e arder. A arte de ser turista me faz casa. E encantada, eu disse sim. Eu caso! E prossigo com meu feliz pra sempre.