É eu sei. Tá tudo meio bagunçado. Corrido. Acelerado. Ansioso. Terceira marcha. Passa pelo semáforo vermelho. Falas sem olhos nos olhos. Tô na escuta. Você tem 20 segundos. Acabou. A vontade é de gritar alto. Volta aqui ! Mas sabe o que é cômico? Que ainda com todos os poréns, a minha vontade é de sentar na frente daquela janela enorme e cair na gargalhada. Sim, eu sei. E nem é tanto por desespero. Eu sei que é pro meu progresso. Eu sei que essa corrida tem muito a me ensinar. E quando olho pra janela, eu enxergo isso. E dou risada pra me demorar. Sentir que tô aqui de fato. O tempo tá passando tão rápido. Me sinto culpada por desejar sempre pelas quintas e finais de semana. Sentir o pé no chão. Dar aquele gole de vida. Tá acontecendo. No meio da bagunça. Do trânsito. Dos projetos com prazos apertados. Entre as cobranças no trabalho. Lá em casa com as roupas dobradas esperando serem organizadas. Cor por cor, de frio e calor. Sou virginiana. E mesmo a bagunça, que me deixa aflita às vezes, querendo com que eu corra ainda mais rápido para botar os pingos nos is, eu me acho em pautas, as classificações adiantadas, em meio a confusões selecionadas. É preciso ter filtro. Hoje choveu tanto. Impressionante, foi sair da estação que começou a cair o mundo. E adivinha? Lei de Murphy. Sem guarda-chuva. Peguei meu cachecol e resolvi fazer como alguns dos meus parentes, fiz jus à descendência. A calça ensopada, o cabelo já molhado pós banho, agora molhado de chuva. Eram 9 da manhã. E eu já tinha tomado dois banhos. Entrei no escritório pós uma pausa no banheiro. Rindo. Só podia ser brincadeira. Jurei que pegaria um baita resfriado. O dia foi puro caos. Pepino atrás de pepino. E o mantra na cabeça “vai dar tudo certo”. Eram 21h e eu podia ainda sentir na pele aquele banho de chuva. Voltei pra casa num trem lotado. Em casa, parti para o terceiro banho. O pijama. Minha cama. Eu sei, eu ri. De novo. E não, não foi desespero. Foi até que um riso de alívio. Eu amo essa bagunça. Com gosto de verdade. A gente se cobra tanto. Perfeição chateia. Sem sal. Sem açúcar. Eu brincava com uns amigos dizendo que meu lema de vida é que “a vida é um morango”. Doce, por vezes azedo. E graças a Deus tem açúcar, chantilly, Nutella e fica a gosto do consumidor. Tem que ter graça. A gente precisa mesmo é se lambuzar. Tem que render história. Perfeição ensurdece. Eu quero ouvidos a me escutar. Conforto é bom até certo ponto. Depois acomoda. Me incomoda! Quero ar puro. Pé na areia. Cabelos molhados. Quero presença. Ser beijada pelo sol. Energia leve. Quero me encantar pela arte, pelos lugares, pessoas! E ressoa, faz voar! Flutua! É leveza no caminhar! Quero conversas abstratas, teorias mirabolantes sobre o significado da vida, aliás qual o teu lema? Quero retratos de aquarela. A gente começa pintando as paredes e sai na guerra de tinta. E fica melhor que Monalisa, com todo respeito a Da Vinci. Quero cartas feitas à mão. Pão de queijo fresquinho com requeijão. Comidinha de fogão a lenha. Água de coco à beira mar. Falando de mar, entrar nele durante a semana, todo dia ver o pôr do sol brincar com as cores do céu. Meu lar. Eu amo. Amar. Dar uma volta de bicicleta antes de ir ao trabalho. Encontrar pessoas especiais por acaso e de propósito dar motivos pra ficar. Pelo bem do povo, eu fico. Como girassol, sigo. Até no fim do túnel. Se preciso. Viro. Giro. Sou. Riso. Sol. Sua. Luz. E brilha. Ilumina. Tão bonita essa gente que irradia. Inspira. Eu vibro. E comemoro cada vitória delas. Tão minhas. Eu torço. Sou ótima cheerleader. Ainda mais quando a companhia é recíproca e se doa aos tantos. E quando junto, a bagunça vira uma. É nossa. O caos vira poesia. Tão belas. Essas pessoas que não se importam em mostrar suas fragilidades. Sente? Eu sei. Essa vontade de sair dançando como o corpo manda. Segue a prosa. Quero mais é estar sempre rodeada dessa gente que sabe enxergar a beleza do tempo que sabem se colocar no lugar do outro, respeitam as singularidades e não têm medo de serem sensíveis em meio a um mundo de correrias que nos obriga a sermos carrascos e frios. Vem cá, aqui tem sol e água fresca. Sombra e música cantada. Em versão acústica e dedilhada. De noite tem fogueira. Instrumentos. Vozes. E rede pra descanso. Aqui tem vida de verdade. E muita sinceridade. É intensidade. Tira o sapato. Tira o casaco. Se joga na baderna que a gente vai fazendo deixando os rastros da vida. Se doa por inteiro. Vai, sem dó. Sem medo. Dá a cara a tapa. Basta de ir no raso, mergulha. Afunda! Eu sei. É isso. Sou eu. A bagunça. E continuo por aí bagunçando. Se quiser me acompanhar, prometo boas risadas!
