No gerúndio das reticências, a saudade…

Trilha sonora: Get Home – Angus & Julia Stone.

Oi! Sou eu! De novo…
Mas de um jeito diferente. Sou de outro lugar. Outro fuso. Outra rotina. Outros arredores e circunstâncias. Eu vejo gente que não via faz muito tempo. Mas não vejo as que via todos os dias há uma semana atrás.
Que bizarro é a palavra que define esse jetlag de pós intercâmbio, disso tenho certeza. Já cheguei estranhando o português. Ainda no aeroporto de Guarulhos, o primeiro choque. Fui ao banheiro e sem me dar conta, joguei o papel higiênico na privada, como fazia na Austrália. Depois que me dei conta do que fiz, acordei! “Nossa, to no Brasil mesmo!” Hahaha. Na escada rolante olhares irritados em minha direção. Mas o que eu fiz????? “Lado esquerdo livre” ou era direito? Boa! Agora eu travo toda vez que vou pegar uma escada rolante.
Sem contar que por vezes eu fico parecendo uma retardada procurando a palavra certa em português. Ou quando o pensamento vem em inglês e quando vou falar, tu para pra passar pro português. Tá fácil, viu?! “Nossa, tá falando assim só pra mostrar q…” NEM TERMINA! Tem que ouvir isso ainda! Faz o favor e pare! Não é! É costume! Quando você se adapta a uma coisa… “Velho, você tá com sotaque!”, “caraca, sua voz mudou!”. Talvez seja. Não somente a voz. Acredito que cada língua tenha um ritmo. E no fim a gente dança. Só pegar o passo. E seguir a coreografia. Mas se não souber escutar, se não pegar o timing certinho… Dê tempo e saiba apreciar. Cheguei e fui recebida pela família. Comi minha comida. Oh saudade de um arroz e feijão e de uma pizza de frango e catupiry. . Fui em um salão e não gastei a fortuna que gastaria lá fora. Revi meus grandes amigos das antigas. Revivi aquela Amanda de 2014. Mas ela não sou eu. E percebe-se. Tá diferente! Eu sou lembranças embaralhadas pela memória um pouco falha. Sou as fotografias que faço questão de revelar e que contam em si uma história cheia de saudade. Eu sou a saudade. Misturada com os sonhos e a esperança de resgatar e realizar todos. Sou minha casa. Com as minhas asas. Que não tenho. E minhas linhas meio tortas nos rabiscos do meu caderno que sempre carrego comigo. Sou as notas tocadas das minhas músicas favoritas e os sotaques daqueles que conheci pelo mundo. Sou o agora. E ainda o vazio que está pra ser preenchido com o que tenho a explorar da minha casa a fora. Mas tem tanto por ser e por querer, quero ser mais. Viver mais. Amar mais. Viajar mais. Mudar mais. Andar. Respirar. Novos ares. Pirar de tão encantada pelas novas descobertas. Mas não estou em 2014. Muita coisa aconteceu. Acontece! E ainda acontecerá. Sou 2016. O mesmo cenário e elementos, mas tudo diferente. A trilha sonora seria Por Enquanto de Cássia Eller, sendo continuada pela Quase sem Querer do Legião Urbana. E tudo parece novo de novo! E isso me instiga. Me prende. E me faz continuar a ansiar. Quero mais.
Me sinto em casa e ao mesmo tempo uma turista. Mas deixo ir. E fica. Esse sentimento estranho. Essa saudade que aperta. Olho para janela e a visão é outra. Tudo me agrada. Quero o tudo! Mas meus braços são pequenos demais para abraçar esse mundo tão grande. Mas meus pés ainda me levarão. A andar por terras nunca imaginadas. Por outras com casas em que portas se abrem e um abraço me aguarda. Por pessoas que sentem também e já viram o mesmo que vi. Estranho! Essa coisa de tempo! Como pode isso? Tudo tão imprevisível. E melhor quando assim é. Mas certas surpresas são meio bitter sweet e me fazem querer ser mais. Mais de uma para poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Somos tão jovens, eles dizem. Há tempo ainda, consolam. Mas quanto mais eu faço, mais quero fazer. E junto da gratidão por tudo que passei, vem aquela ingrata vontade que não se contenta e faminta, desesperadamente grita “o tempo tá passando”. Calma! Sem calmaria! E eu ria sem acreditar que isso tudo eu ainda contaria, “aconteceu, eu juro”. E antes aquela ventania da terra dos cangurus se transformou em garoa na terra da dita cuja. E mudou. Mudei. Mudamos. Ou. Ei. Ora. Por tanto. Continuamos. Amamos. Amando. No gerúndio das reticências. Do presente. Que está acontecendo. Agora. O amanhã? Meus olhos se chocarão novamente. Com o novo. Ainda que seja pela luz do sol. E gira. Os pés nos faz acompanhar. E desvendar o descobrir. De cada dia. De cada lugar. Fuso. Rotina. E vai. Fora. Fica. Vai. Volta. Toda. Roda. Circunferências. Circunstâncias. E nos rodeia. De música. De sentimento. Indescritível. De saudade. Que arde. E faz continuar na roda. Incansáveis. Com pés intangíveis. Rápidos sem pressa. Ainda com andar devagar. Simples. Nos detalhes. Complexidades a disparar a desatar os nós. Nos unindo cada vez mais ao mundo e às pessoas. Ainda não sei explicar. Mas quando souber… Bom, deixa pra lá.
















Por Amanda badrie

Profissional de marketing e comunicação, movida por transformar ideias em movimento e conexões reais. Criadora do C+, Na Dosagem Mais Coragem, para ser um espaço para quem acredita que viver é um ato de coragem.

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