Eu lembro como se fosse hoje o dia em que decidi que era minha hora de cair nesse mundo. Baita clichê, né? Mas vamos por partes. Tô falando de quando deixei pra trás minha casa, meus amores, minhas escolhas pelo desconhecido. Inclua nesse meio o brilho nos olhos que sempre é acordado pela minha curiosidade nata. Essa me mata. Até porque olhar só pela janela uma hora cansa. E falo da vida e do nosso próprio umbigo. Óbvio que rolou medo. Mas a confiança de que eu tinha que pisar a frente com meus pés descalços e solo. Eu disse sim pra mim. Pra minha própria companhia. Quis ser minha melhor amiga e do mundo. Não era egoísmo. Era a minha verdade que eu procurava. E o peito ardia de empolgação ainda mais com o colo e apoio dos que andaram sempre ao meu lado e já enxergavam o que eu ainda não via em mim.
Eu digo que já perdi um irmão, um tio, meus avôs, quase meu esôfago, meu pai por uma semana, mas a maior perda que alguém pode ter é a da vontade de mais. Não dizendo que minhas perdas não foram dolorosas. Mas a gente precisa perder coisas valiosas pra aprender a não perder a beleza no olhar, a valorizar, aprender a recomeçar e reconhecer o que nos move e abastece-nos com uma força maior. Ah, é que quando a gente volta pra estaca zero ainda mais só, vemos a olho nu nossa fragilidade que tanto escondemos. E ela é tão bela. Libertadora. E vira companhia. A gente precisa sentir na pele o que é ter tudo a perder, e nada a perder. E a gente só ganha. Se ganha. Arrepia. Os passos se fazem um a um. Os detalhes fazem a diferença. E observar as instâncias… Ah, menino, viver é tão belo. Ainda com o medo, tristeza, raiva, angústia, sinta seu cem por cento, cai de cabeça no teu eu verdadeiro. Cada momento até o que a gente reza pra passar logo, tem um porquê e poesia. Eu te juro. Confia em mim. Não se esconda. Leia seus rabiscos. A gente é uma bagunça tão bonita. Se encara e para. A vida continua. E o tempo passa. Essa é a única certeza que temos. Então não apressa o passo. Respeite teu momento. No teu ritmo. Mesmo que desengonçado, a gente dança. E alcança. Quem queríamos ser. E somos. Agora. O que tínhamos que ser. A gente se desafia, dia a dia. E olha onde chegamos. Hoje, 23 primaveras. E umas histórias das mais cabeludas, lúdicas e sinceras. Grata pelos personagens, trilhas sonoras e cenários. E sem ser narcisista, grata a mim mesma. Por ter me permitido me demorar em pessoas do bem, me doado a quem sempre me quis bem, ido a lugares que rendem amizades e momentos únicos. Por também saber a hora de ir. E não ter tido receios ao enfrentar o novo. Por amar de novo, ter tido outras casas, tantas abraços e me adaptado a novas rotinas. Até porque, amor próprio é algo que aprendi nessas andanças. O próprio, ao próximo, ao simples, detalhes, o agora. E nesta chamada da vida, grito presente. Aqui estou. É tudo tão lindo. Vem ver. Eu te mostro enquanto vou. Recomeçando. Andando. Aprendendo. Escrevendo sobre a vida. Observando-a. Vivendo. Amando.
Me chamo Amanda.
