Trilha sonora: Can’t Feel My Face – The Weekend.
Os olhos lentamente se abrem e se recusam. Tá muito cedo. Tá muito claro. O alarme insiste. Mais um pouquinho não tem problema. Ah, quem colocou pra tocar de novo em 5 minutos? Se for comferir meu celular verá mil alarmes programados pra disparar. Como se fosse resolver. Sem chance. Primeiro que não dá nem pra mexer no meu celular. Não foi só eu que acordei com indícios de ontem, quem disse que já é hoje? Acordei! Mas meu celular apagou. Ah que ótimo! Comecei o dia bem! Quer saber? Já estou atrasada mesmo! Deitei mais um pouco! Sem alarmes! Quero ver quem me tira daqui? Alô, Amanda? Quem fala é a consciência! Bem vinda, querida! Que deseja? O dia lá de fora! Ok! Me convenceu! Vamos fazer de tudo pra que o dia não caia em queda livre. Só altos! Levantando voo.
Tomei um bom café da manhã! Um bom banho e sai com o cabelo pingando. Já contei que amo a sensação de cabelo molhado? Me vesti, calcei minha botinha que já tá quase batendo as botas e passei pela porta. O pé deu seus pulos. E foi. Que estranha a sensação de ficar sem celular nos dias de hoje. Ai que a gente vê a real dependência. Que agonia reparar isso! A atenção antes focada, se dispersa e observa. Analisa e estuda curiosamente os detalhes e encantos de cada canto.
E sumi. Apareci também. Quase dormi na aula. Sono despertou. Acordei! Aula acabou. Fui no Victoria Market almoçar com meu amigo Welcome. Que hambúrguer “massa” como diria minha amiga de “Récife”. Ahhahaha. De lá achamos ainda uma loja pra arrumar a indecisão entre liga/não liga do meu celular que deu pt. A trágica notícia. Ele sobreviverá, mas perderá toda memória. Só vai! Aval tá dado! Quero vida! Depois de 40 minutos, ele sai da UTI! Parece outro. Cadê minhas fotos? Meus contatos? Meus emails? Meus aplicativos? Meus sites favoritados? Minhas músicas? E essa configuração resetada? Cadê meus textos no bloco de notas? Ah que piada de mal gosto! Hahahahaha. Tá brincando, não é possível! Abracadabra! São Longuinho! iCloud! Sos! Santo Back Up. Contatos e textos voltaram! Ai que saudade eu estava! Fiquei tão preocupada! As coisas foram voltando aos poucos depois de sincronizar. Menos as fotos, as conversas, as mensagens… Um minuto de luto hahahaha. Passou! Fiquei chateada, até que lembrei que a maioria das fotos estavam bem guardadas no pendrive, e as mensagens na cabeça. E andando de volta pra casa com meu amigo, passamos por uma rua de arquitetura curiosa e uma atmosfera encantadora, que apesar do frio não congela. Hesitei por um momento em tirar foto, pensando em quão carregado meu celular estava. Mas impulsivamente peguei e acertei o ângulo. Memória liberada. Posso lotar de novo. Que venha muitos momentos dignos de recordações e fotos nostálgicas e carregadas de boas histórias. Com licença. Abram alas, portas, espaço. Tem hora que a gente se segura tanto nas lembranças que esquece que agora é hora de fazer novas. Então que venham! Cabe todo mundo!
Fui trabalhar enquanto o back up estava sendo feito. Algumas coisas foram voltando ao normal, outras perdidas em algum canto dessa utopia. Restaurante lotou! E eu lá sozinha! O tempo passou rápido e o sono chegou na mesma velocidade acompanhado pelo cansaço. “Pode ficar até mais tarde? Tá cheio aqui ainda! Te deixo em casa!”. Respira fundo! Tu aguenta. Pensa que mais horas é mais dinheiro. Mais dinheiro, mais viagem! Mais viagem, mais histórias! Assino embaixo! Todo mundo lá empolgado. Servi e fui bem acolhida. O segredo está em sorrir! Um trio de senhores, um italiano, o francês e o australiano. Chegaram na marra, mas insisti no bom humor. Convenci! “De onde você é? É artista? Quer ser? Brasileira? Amo o Brasil! Eu sei falar um pouco brasileiro, é parecido com espanhol, não é?”, e o assunto flui, a curiosidade abre a noite. O outro puxou minha mão e fechou os olhos “você tem um futuro maravilhoso, querida! Parabéns!”. Amém! Hahaha. “Você tem irmã mais velha?” Hahahahaha. É cada uma. E ainda cansada, a gente ri. Quando acabou o dia, sentei e comi uma pizza feita especialmente pra mim! Comi como se fosse um prêmio por ter segurado as pontas naquele dia corrido e cheio sozinha. Levei vinte dólares de tips orgulhosa. Cheguei em casa já eram 2 am. E foi tempo de me arrumar e cair em queda livre na minha caminha. Que dia. Com licença. Abra espaço! Tem muito a caminho! E a gente trilha.
As mensagens, os abraços, os laços, alguns nós, todos nós! Vem que cabe!



