Crush For Adventure

Trilha sonora: Winter – Deo Paoro feat. Adam Rhodes. 

Eu confesso. Tenho uma relação de amor e ódio com listinhas. Sou cheia delas. Tem a de livros e filmes já vistos e os que pretendo passar pra primeira lista. Tem a de lugares que preciso ir. A de metas e sonhos. A de supermercado. Algumas ficam esquecidas. Outras atualizadas a cada segundo. É mania. Amo pontuar e esclarecer. Mas a partir do momento que entra pra lista, ganha um peso maior e contraditório. Sabe quando você anota pra não esquecer? Mesmo sabendo que isso seria algo difícil de acontecer. E por vezes a tinta fraca só grava no papel e apaga. Desbota. Tem umas que enfatizam, passam marca texto! O tempo tenta apagar. Mas está com tinta permanente. 

Acordei às 4:30 hoje! Tá na hora de tirar um item da lista. Entrei no carro! Pé na estrada. Destino? Passar frio. E nunca essa ideia tinha sido tão agradável. Eu nasci pra isso. Pra sentir esse frio na barriga. Não foi à toa que escrevi em mim “Todo piso será palco. Todo sonho, realidade. E a cidade inteira, poesia…”. Dança, voa, faz o que tem vontade, usa toda a coragem e cria na falta dela! A poesia e as reticências nas entrelinhas dos nossos dias. É isso que me preenche e me faz sentir o gostinho do agora. Arrepia. Juro, não é imaginação. Tá acontecendo. 
No meio do caminho, raposas, cangurus. Depois o branco começou a tomar conta da paisagem. Língua entre os dentes, se você me conhece, sabe que esse é o sinal, tô feliz pra caralho! Desculpa, mas não tenho outra palavra pra descrever a intensidade. Hahahaha. Cantando a música Telegrama do Zeca Baleiro e emendando com a Feliz pra Cachorro do 5 a seco! Hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia, de beijar o português da padaria, toda feliz como num gol numa copa do mundo, no fim do segundo tempo da prorrogação, desde que te vi é farra pra tudo, tem funk no morro, cantarolo e morro de rir, tão raro de se ver, param pra dizer para eu ser feliz pra lá. Peraí, o que é que há? Quero ver quem vai me impedir de sorrir do Pari até o Pará. 

Então tudo ficou branco. Eu podia descrever como diferente, mágico e incrível. Mas talvez essas palavras não tenham pra você o mesmo sentido que têm pra mim. Eu explico, sabe uma coisa que tu sempre sonhou em fazer, até fazia parte da listinha? Algo diferente de tudo que já fez antes, mas que talvez demorasse para ter a oportunidade de concretizar tal experiência e riscar o item da lista? Done! Check! É disso que to falando. 

Fui parar em Mount Buller com meus primos. Cheguei e já estava tudo coberto de neve. Olho pro lado e se o meu reflexo não fosse tão bom eu teria tomado uma bolada de neve hahahaha. E devolvi! A guerra tava armada. Até que minha roupa passou a ficar branca e meus cabelos congelados. Começou a nevar. E não foi pouco. Aquele sonho de criança de ver neve. Realizado. Mas eu tenho queda por aventura! Queda livre. Hora de subir a montanha e deslizar. Esquiei. Não de princípio. Hahahahaha. Tomei uns tombos bonitos. Pior que eu parava no chão e passava uma criança sambando na minha cara na arte de esquiar. Uma hora pegamos uma descida e eu não consegui parar, escorreguei de costas e cai em cima de alguém. E pra levantar? Primeiro que com o equipamento é impossível. Tirei e me levantei pra encaixar a botinha no ski de novo. Haja equilíbrio. Aulas de dança foram úteis até nisso. Lá do alto, alguém que estava no lift grita, apontando pra mim, “I believe in you”, ri muito “THANK YOU!”. Mas queridinho, quando levantei e aprendi a controlar a parada também, ninguém me segurava mais. Comecei a brincar de esquiar. 

No caminho de volta, mais música, três horas de soninho. Carro e longas viagens, sonífero! Hahahah. Mas também o pôr do sol. E o dia acabou em pizza, pra contrariar o ditado popular. Mais um filminho pra completar o dia. Cheers.

Que dia. Que delícia a sensação. E vicia. Quero mais. Essas quedas, tão livres e leves. A natureza é tão humana. Me cativa, me apaixona! Te conto, eu canto e somo essa matemática saudosa. Que fica e abraça. Faz carinho e testa teu caminho. Tempera. Acelera. Intensifica. Cada descida esquiando me lembrava meu compromisso com a dança. Anos treinando, meses ensaiando, um dia de teatro e menos de cinco minutos no palco. E ali em cima a sensação única. Faz valer todo o tempo claramente desproporcional. Mas te faz tão vivo que a sensação continua pós aplausos. É aproveitar o caminho, a expectativa, desfrutar o frio na barriga e intensificar a descida, a subida. Desliza. Risca da lista. Sobe de novo. E se entregar nessa queda livre e confunda seu tempo com o do relógio. 
Depois de mais uma experiência, já posso falar que fiz algo pela primeira vez recentemente. E que venham mais, segunda, terceira, quarta… É tirar da listinha e aumentar minhas histórias contadas. Escrevo, te conto e mando carta. A gente vai se falando. Ou você pode me acompanhar. Se viva, guri! 

Por Amanda badrie

Profissional de marketing e comunicação, movida por transformar ideias em movimento e conexões reais. Criadora do C+, Na Dosagem Mais Coragem, para ser um espaço para quem acredita que viver é um ato de coragem.

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