De Lá Pra Cá

Trilha sonora: Different Pulses – Asaf Avidan. 
Quando eu era menor meu maior medo era me perder dos meus pais. E se por algum momento durante alguma de nossas saídas eu os perdesse de vista o estômago embrulhava, os olhos se enchiam de lágrima, o peito batia forte e eu não conseguia me mexer. A verdade é que até hoje quando eu me assusto fico meio sem reação, e meu reflexo que costuma ser rápido, falha. O tempo passou, a altura não mudou muito, mas como diria Cássia Eller “mudaram as estações, nada mudou, mas sei que muita coisa aconteceu. Tá tudo assim, tão diferente!”. Claro que a ideia de se perder ainda persegue e se acha. Mas o olhar é outro, um pouco mais alto e temperado com adrenalina e curiosidade. Por que vim parar aqui? Quem entra na chuva é pra explorar, se aventurar, um viva ao esquecer o guarda chuva propositalmente. Esquecer, será? Esquece! 
Hoje acordei na preguiça. Querendo tudo bem devagar. Acordar. Levantar. Tudo com rituais e preparações. E alonga. E prolonga. Aquele típico dia que você acorda tarde e toma um café da manhã já almoço. Depois me juntei com a minha flatmate. Ela me contando as histórias e mostrando fotos da cidade dela e das que já visitou na Europa. Eu mostrando um pouco do nosso Brasil brasileiro. E achamos graça ao concluir que por vezes sabemos mais sobre outros lugares do que o nosso próprio. Que por alguma razão relacionada com o conformismo, o famoso “deixa pra amanhã”, ou a sensação de casa mesmo, nos cega aos detalhes, esses que fascinam os turistas. E quando voltamos, a gente estranha. Porque volta a ser novidade. Isso sempre esteve aqui? Parece aquelas mágicas que acontecem igual quando estou a procura de algo, dai tu procura em tudo e nada, sua mãe vai e na hora encontra. “Tá debaixo do teu nariz!”, “se fosse uma cobra picava”. Então me diz, onde é o meu lugar? 
É tão bom ser reconhecido, não é? Quando você faz algo de coração, alguém se enche de emoção e tu consegue transmitir um pouquinho do que guarda pra ti. Tocar sem toque e ainda mais forte a ligação, aperta e aproxima de um jeito que ainda que a distância tente separar, só faz mais pra reforçar o laço e torná-lo resistente. Resiste. Aguente. Persiste. Tente. Não rompe. É suficiente. É sobre isso, é sobre a gente! Fui rapidinho no mercado, comprei uma caixa de Lindt e cartão presente. Aniversário do avô que Deus me mandou quando o meu no Brasil tinha se ido… Maktub! Certas coisas acontecem pra consolar nossas dores e acalentar nossos corações. Assim, pra mim todo encontro traz um reencontro e uma razão, missão e destino. Desci na minha estação. O cartão já escrito, o parabéns, os amigos! Ainda na correria de um sábado de trabalho. Os abraços. As palavras. Mesmo com certos desentendimentos, pés cansados. O refúgio. A música e o bom humor que  faz sustentar. Aguenta. Vá rindo. Quase quatro da manhã, cheguei em casa! E amanhã a jornada continua logo cedo…
Sabe o que é? Hoje não tenho medo de me perder. É como aquele outro famoso ditado “é errando que se aprende”, é se perdendo que a gente se encontra. Não te escondo! Te mostro! Observe! Está claro em cada canto. De lá pra cá. Todos os detalhes. A gente que não repara. Brinca de cobra cega e esconde esconde. Quero tempo. Descer do trem numa estação que não conheço e sair andando pra conhecer. Quer vir junto? Tem espaço! A gente se aperta. Mas cabe. Dizem que o mundo é pequeno, mas a cidade que é! Pequena pros sonhos de quem quer seguir por aí. 
Sem seguir as pistas, nem roteiros antigos. É isso “desde que a minha vida saiu dos trilhos, sinto que posso ir a qualquer lugar”. E dessa vez os olhos se enchem de brilho, o estômago com borboletas, e o peito ainda bate forte. Só pra dizer que isso é vida. E vivo! 

Por Amanda badrie

Profissional de marketing e comunicação, movida por transformar ideias em movimento e conexões reais. Criadora do C+, Na Dosagem Mais Coragem, para ser um espaço para quem acredita que viver é um ato de coragem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Cartas