Trilha sonora: If I Had Eyes – Jack Johnson.
Vossa mercê, vossemecê, vosmecê, vancê, você, vc, cê, c! How are you going? How ya going? Hygun? Silêncio. Olhares. A gente se vê. Piscadinha. Aceno com a cabeça. O riso de lado. O olhar 43. O cúmplice. O que planeja. O que forma parceria. O que pensa igual. Tem o que entrega. O tímido. Também o que ri. Mas a gente não precisa de muito. Ainda em palavras. Ainda rouco. Sem fala. Fala. Pelos. Cotovelos. Pela expressão. Pelas mãos. O toque. O sexto sentido. Sente. Repassa a informação. O arrepio. Aguenta. O andar esquenta. Esfria. Rodeia. E gira. Direita. Esquerda. Atravessa. Primeira esquina você entra. Tira os sapatos. Põe o pé no chão. Coragem. Comunica. Os passos largos. O andar rebolado. Sem pressa. Ainda agitado. Procurando atalhos e caminhos desconhecidos. Sair a tirar os sufixos, os “não” temidos e os “ais” questionados. E se? NADA! Sem se. M. Mandando tudo que atrasa ir pastar. Atravessa e cruza a linha de chegada. Já cria uma nova jornada. Um novo roteiro. Não para. Senão cai. E se cair, levanta. Sem chão. Voa. Na lagoa. Mergulha. Que? Nada! Tá alto. Flutua. Na boa. Respira. O azul. O verde. O arco íris depois da chuva. Pega a prancha e sobe. Tira onda com a vida e a ela mesma se apegue. Olha a crista. É tua hora. Como tu fala quando lhe falta voz? E quando lhe sobra? Quais as palavras que viram gestos? Quais as expressões que ganham forma e viram arte? Quais as falas que se passam pelo olhar? Comunica. Me conta. Corta a cena. Fica. Foca aqui. Olhe pra mim. Deixa eu tentar entender o que se passa ai. Simplifica. O simples. O preto no preto, o branco no branco. Com pleonasmo e confusão. Mistura tudo, coloca cor, coloca sal e açúcar, catchup e chocolate. Mais tudo o que há de bom. Elemento X e assim nasceram as Meninas Super Pod… Blá blá blá. Que mania essa de querer achar sentido. Claro que é incrível a sensação de quando tudo tem uma lógica, pé e cabeça mais um corpo inteiro. Uma história com começo, meio e fim, ainda que não nessa ordem. Vira um ciclo. O quebra cabeça se encaixa. O castelinho de areia se mantém e o vento não derruba o de baralho. Mas os três porquinhos aparecem e o vilão, bem, você conhece essa história. Não faz sentido, diziam. Não é pra fazer, responderam. Mas no final das contas a soma dá exatamente a resposta daquelas multiplicações seguidas de divisões e equações integrais, não dá zero nem um, tava claro desde o começo. Como não percebi? Tão simples e a gente complica. Precisa explicar? Não tem explicação. Olhe. Quer que desenhe? Ligue os pontos. Voltamos. Ponto de partida. Com mais um ponto. Liga de novo. Passa a fase. Que fase. Agora já sabe. E as perguntas mudam. Cadê o sentido. Perdeu o ponto. Perdeu a linha. Procurado. E o ciclo recomeça. E a gente sai costurando. Os retalhos encontrados. Bordando interrogações, exclamações e reticências… Esquenta. Deixa de molho. Põe no sol. Aquece. Esfria. Dai anoitece. Os olhares se aproximam, já virou 86. E o nó tá feito. Virou laço. Virou nós. Um sou de ponta cabeça com uma vírgula fora de lugar. Tudo é ponto de vista e que pôr do sol. A lua seguindo no meio das luzes que imitam as estrelas. A gente fala calado, sem precisar da voz. Somos um livro aberto a ser lido e interpretado. Alguns com desenhos e ilustrações, chamam atenção, nem por isso deixam de ser interessantes aqueles tímidos que se mostram entrelinhas, com letras pequenas e requerem atenção. Me interprete como preferir. Espero que não pare na primeira página. Vem aqui. Vamos trocar as nossas, dedicatórias e a gente se marca. Te leio de uma só vez. E releio. Me leia. Tá vendo essa caneta? Não seja tímido. Pode chegar mais perto. Acrescente um ponto, uma vírgula ou um capítulo inteiro. Rabisca. Quero páginas cheias. Um livro recheado. De gente e de mundo. Simples assim. A ponto de só olhar, a gente já se entende. Ri porque não precisa de muito pra sabermos que pensamos na mesma coisa. Simplifica.
Resumindo: ligação da flatmate dizendo que deu tudo certo e que já estava pegando o avião pra Nova Caledônia, “tudo de bom, sentirei sua falta”. Ligação de quem se importa e oferece um ombro amigo (amo essa mania que a galera daqui tem de ligar, essa geração de apenas mensagens de textos não tem lá toda tua graça). Olhares que se falam e riem juntos na sala de aula. Gargalhadas que param, desconcentram, intrigam, atraem olhares curiosos e vira coletivo. A lua na Federation Square entre as luzinhas que deixam a noite mais quentinha. O trabalho que faz as horas passarem rápido. A compreensão de quem perdoa e se coloca no lugar. A saudade que na tentativa de ser aliviada, só aumenta. O casal da Sourthen Cross que só se olhava e ali abraçados por tempos, só os dois, no meia da noite, na estação já vazia, os poucos que passavam não conseguiam desviar o olhar, a cena mais linda, de tão simples, como se ali o tempo pra eles tivesse parado. Até que não tá tão frio.
Então é isso. Liga. Mostre o que quer. Que se importa. É parar de andar em círculos. E de insinuar. Fala. Olho no olho. Boca na boca. Fala do jeito que tem que ser falado, ué! Tanta coisa bonita ai dentro guardada que virariam exposição com recorde de estréia com maior bilheteria. Olha. Soma. Dá um laço e dois nós pra deixar bem firme. Agora vira um. Embrulha pra presente. A gente se entende. Entrelinhas. Entre olhares. Risadas. Entre um mundo e um oceano inteiro. Tudo azul. Enxergar o nosso reflexo no oceano de quem procura se refletir na gente. E a gente se lê. E a gente se vê.


