Impressões

Quantas vezes você se olha no espelho? Não, não é nenhuma crítica! Pelo contrário. Não tem quem não olhe quando passa por um. É quase um ímã. Aquela necessidade de dar uma conferidinha básica. Vai ver a gente se preocupa demais com a nossa imagem. Assim como primeiras impressões. Daí a pergunta: é a primeira que fica? Sem querer passar a impressão de intrometida, mas qual a sua reação quando se vê em um espelho? Tem gente que no automático mexe no cabelo, outros que param para conferir de perto, tem os que não identificam o que vê e se estranham, tem também quem faz caras e bocas. 
É engraçado isso… A gente se acostuma, encontra as respostas e então tudo muda. Inclusive as impressões e as perguntas. Isso não é uma reclamação! Nunca fui amiga próxima da rotina. Na verdade, nesses últimos tempos a gente meio que discutiu e felt out. Hahaha ~praticando a lição de casa. “Ah, mas é a vida… A gente precisa dessas responsabilidade…”, sim, eu concordo. Mas, não! Desde que cheguei estou experimentando coisas novas, destruindo primeiras impressões! Me olho no espelho e ainda que não seja tão claro, eu dou risada, já não é o mesmo reflexo! Me tornei mais curiosa, na marra estou colocando à prova de fogo meu problema com o tempo, pontualidade tá começando a fazer parte da rotina. Rotina… Me tornei impaciente com certas coisinhas que antigamente levaria um tempão pra resolver, gente que faz tempestade em copo d’água… Eu que sempre fui muito indecisa e ainda que não faltasse vontade, a coragem se escondia. Coisas que hoje não estão como na primeira impressão do espelho. Quando passamos a admirar o novo, acabamos gostando do friozinho na barriga e ainda sem coragem, a gente arrisca. Why not? 20 segundos! E a sensação de quando isso dá certo é ainda mais revigorante. E vicia. Acho que é por isso que rotina anda me provocando tanto. Não que eu não saiba lidar, mas dinamismo é sempre bem vindo! 
Quando a gente se coloca do outro lado do mundo muitas das opções se bastam, mas mil e uma se multiplicam. Você se reveza, se diversifica, se escolhe, se supera, conhece e reconhece! Mas olhando pro espelho… Dou risada! Não parece que mudei tanto assim. Dois meses. Mas é nítido! Não vejo o mesmo que antes eu via. 
Minha primeira impressão de Melbourne? Cidade tímida, mas que apaixona com suas luzes e charme só dela. Multicultural, artística, o lugar que chega de mansinho e pede pra ficar um pouquinho. Depois pede mais cinco minutos e já se passaram horas. Romântica e moderninha, Melbourne é a menina dos cabelos dourados que tem em si todas as versões, a rebelde, maluquinha, companheira, meiga, aventureira e amiga de todos. A Europa com um Q de África, temperada com Ásia e América, tudo isso naquela parte do mapa que tá escrito Oceania. Eu olho pra esse mapa, meus olhos sempre procuram dois países. Seus contornos me encantam. Têm forma de casa. É um carinho tão grande que só de olhar me encho de perspectivas e as formas viram um feedback com trilha sonora do peito batendo mais forte. Lar. Doce. Lar. Me tenho aqui, deixei tanto de mim. Se passar só por passar, não passa! Tem que se doar. Viver aquilo e deixar um sentir, pro sentido ficar. Ainda que com o passar do tempo as coisas vão se normalizando. O que a gente se encantava, hoje já faz parte de nós. Mas aí você se olha no espelho! Qual sua reação? Não é a primeira e nem última vez que se vê ali! A primeira impressão não fica! Vai se atualizando e ganhando cada vez mais versões. A questão está na sua reação diante disso. Você deixa de se encantar? Muda pra se sentir melhor? Faz careta e acha graça de como as pequenas coisas passam batido e elas que contam. Simplifica. Se precisar, muda! Mudança é o melhor remédio! Tudo volta a fazer sentir, deixar sentido, encanta e ainda provoca a curiosidade, dai não para! A gente é assim… Não adianta negar! Quando nos acostumamos, acabamos por deixar de perceber o que sempre nos encantou e ofuscamos o que de fato importa. Reparei isso logo que cheguei aqui, me perguntavam coisas tão simples sobre meu Brasil e certas perguntas não consegui responder. A gente muda o olhar quando tá em casa. Tiramos todas as lentes. E nos confortamos. Mais do que nunca faz sentido o que minha professora de antropologia da faculdade disse uma vez em aula, não dá pra fazer uma pesquisa de campo sobre o lugar que você mora, é mais difícil de perceber os detalhes. Porque tudo é normal, a gente não sabe onde passar o marca texto. Mas quando temos um referencial e nos é dado um mapa novo, fica tudo tão claro. As primeiras impressões dão lugar a segundas, terceiras, quartas…
Por isso que sair da zona de conforto te faz usar óculos. A gente se reinventa e quando normaliza a gente já inventa de novo outro novo pra experimentar e desvendar. Quando vai ver, a nova zona de conforto é sair da zona de conforto… Me entende? É mais ou menos o papo de rotina. A gente simplifica. Conforto é sair do que te prende e acostuma. O novo corte de cabelo, uma nova roupa, um novo país, novos olhares, impressões e reflexos. 
Ontem. Mudanças. Hoje. 
A coisa que me contradiz. Não gosto de dar tchau, mas gosto de mudar. Aquilo de descobrir e juntar as peças soa muito atrativo. A atividade favorita de um curioso é pegar a bússola, uma caneta e papel pra sair anotando todas as interrogações colecionadas no meio do caminho e desentortá-las em forma de exclamação! Depois ainda tira foto e guarda de recordação. 
Nova professora. Nova classe. Alguns antigos amigos. Mesmo incrível professor na aula da tarde. Mas muita gente nova. Muita risada garantida. Muito trabalho pra desentortar. E quando olho no espelho, dou risada só por esperar pelas novas impressões e pelo o que ainda estou por ver. 
E você? O que vê?

Por Amanda badrie

Profissional de marketing e comunicação, movida por transformar ideias em movimento e conexões reais. Criadora do C+, Na Dosagem Mais Coragem, para ser um espaço para quem acredita que viver é um ato de coragem.

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