Trilha sonora: Wait – M83.
E já se foram cem dias na Terra do canguru. Acordei. Se espreguiça. É domingo. Dia internacional da moleza. Telefone toca. É a amiga. Se troca. Sai de casa. Deixa a preguiça pra trás. E tantas outras coisas. A gente costuma ter uma bolsa invisível, o que você costuma levar sempre contigo? Uns trocados, paciência (nem sempre, às vezes fica em casa fazendo companhia pra preguiça haha), sorrisos (minha maquiagem), atenção (por vezes sou roubada), curiosidade (essa tem de sobra), perguntas (acompanha o item anterior), saudade (tá junto sempre, se estou aqui, tenho saudade de lá, se lá estou… É você entendeu), a minha bolsa é quase aquela da Hermione, tipo coração de mãe e backpack de mochileiro.
Eu amo as ruas daqui, principalmente as lanes, cheias de grafites. A arquitetura. Os espaços todos pensados. Ainda que não tenham sido. Um lugar que aconchega. E chega junto. Soma os passos juntos aos teus. As luzes. O ar vintage já crescido e moderninho. Os hipsters ganham as ruas. São maioria. O ar cult da cidade me fascina. E numa lojinha de café orgânica fui encontrar uma amiga na Degraves st. As pessoas aqui te param pra conversar. Sem preceitos. Sem interesses. E do mesmo jeito que chegam, elas se vão. Eu e essa mania de gostar e querer repetir a doce… Corta cena. Novos roteiros. Ação. Minha amiga estava indo para uma igreja, eu que nunca tinha ido em uma por aqui, resolvi acompanhá-la. Hillsong Church, quase ao lado da Library State. Eu achei que estava entrando num concerto ou teatro, a música alta e o ambiente diziam isso. “Ei, você tá me levando numa igreja, certo? Só pra confirmar”. Ela riu. Eu devolvi o riso. Subi as escadas. Eu vi uma banda. Olhei de novo pra porta. Sério, igreja? É bem diferente de tudo o que eu tinha na cabeça como padrão de igreja. Eu via uma banda bem legal, umas músicas que eu, de verdade, colocaria na minha playlist. Ao meu lado, jovens, adultos, alguns senhores. As luzes apagadas. Os telões ligados. A música continua. A galera cantando. E eu tentando acompanhar a letra que passava no telão. Depois um homem chega e apresenta um outro que não tem nada a ver com os pastores ou padres que costumo ver. O cara parecia ter saído de uma banda de hiphop e o jeito que ele falava dava aquele gostinho de se estar num show de standup. Não me interprete mal. Não estou criticando. A real é que eu amei ali. Levar uma religião a sério não requer formalidade. Qualquer um pode estar ali na frente e falar umas palavras desde que venham com sinceridade e coração. A energia que eu senti foi tanta. Mas tanta. E abracei minha amiga e me peguei chorando. Sem motivo. Sem entender porque. Não choro assim fácil. Confesso que sou uma pessoa muito sensitiva. Não confunda, não choro por qualquer coisa! Ahhaha. Mas fazia tempo que eu não… Deixa pra lá! Não vamos falar de religião. Mas do que nunca, cada um tem a sua. Eu ainda não tenho a minha, eu sigo várias que acredito me aproximarem do meu Deus. E respeito o teu! Assim devia ser com todos. Respeitando. Mas já falei demais sobre esse assunto, quando na verdade eu só queria dizer que é muito bom sentir sua energia em sintonia com outras. Aquele arrepio que sobe a coluna. Você sente seu coração dobrar o tamanho, expande. Engrandece. Se enche e recarrega. Tá pronto pra próxima. Lição aprendida: fazer comparações é o que estraga e tira a cor dos nossos dias. O jeito é seguirmos nossa rota entre nossos dois destinos, o nosso e o que ansiamos. E acreditar. Sem olhar pros lados, mas em frente. No fim das contas conheci uma galera bem legal! E acabei no Melbourne Central com mais uma amiga, hora da gordice, fomos no Max Brenner, uma chocolateria maravilhosa, só de passar por ela, o cheirinho já dá água na boca. Comi um sorvete, com brownie e chocolate quente. Dos deuses, como diria minha tia Ahhahaha.
Hora de ir pra casa. Espera, tem alguém tocando. Amo essas pessoas que tocam nas ruas. E deixam as noites de frio mais quentinhas. Sentei pertinho da dupla que cantava John Mayer. Telefone toca. “Vem pra Brunswick”, festa, amigos e risadas. “Passa o endereço, estou a caminho!”. Mais música. Mais gente nova. Mais conversas despretensiosas. Mais pessoas dançando e criando seu próprio ritmo. Mas papo furado e risada sem motivo. É disso que preciso. Sentir o agora falando comigo. Voltei pra casa. Minha bolsa lotada, de todos bons sentimentos. Recarregada. Bateria 100%.







