Trilha sonora: O – Coldplay
Sem brincadeiras quanto à minha altura, mas quando eu ainda pequena, virei pros meus pais e os disse: “aos 18 anos vou morar fora, quero viajar o mundo”. Sempre admirando os que a minha volta se redescobriram descobrindo o mundo fora do nosso. E virou vício. Virou inspiração. Já tinha um destino em mente. Com certa influência dos primos que já tinham ido para Austrália. Fui procurar saber porque alguns se decidiram por não voltar. E me encantei. Tudo que estivesse relacionado à essa nação tão longe da minha me fazia brilhar os olhos. Meu aniversário de 18 chegou. Junto com a vontade de dependência que sempre cresceu comigo. ~eu disse pra não fazer piadinha com meu tamanho~ haha. E em um dos cartões de presente que ganhei estava escrito: “ei, aproveita porque depois dos 18 a vida passa rápido.” Eu já tinha me tocado disso um ano anterior quando me formei e tinha em mente tirar o sonho do papel e no momento da carta eu já estava no meu segundo ano de faculdade. Passa rápido, repito! E me assustei! Passa mesmo rápido! Sonhos tem validade? Prazo? Idade? Mas eu sou de virgem, operei de gastrite aos 8 anos, ansiosa e com umas experiências e concepções bem bizarras quanto o assunto vida/morte. Eu tenho pressa de viver o agora. Às vezes dá preguiça e você coloca no modo soneca, só mais cinco minutinhos. Aos 15, foi a primeira parcela do where your dreams come true. Aos 17, a tão sonhada viagem com os amigos bailando em tequila’s city. (Que hoje sou super grata por ter sido o lugar onde conheci alguém tão importante pra mim). Na faculdade aprendi muita coisa. Mas principalmente a me estudar entre as coisas, a observar os detalhes e a poesia que mora em cada um deles. É olhar. Escolha. E escolhi. É a minha hora. De pegar a lupa. A mala. E o avião. No começo de 2014 estava certo! É isso que quero e preciso! “Tá louca? No meio da faculdade?”, “mas agora que está tudo dando certo pra você?”, “é muito tempo, eu não aguentaria”, “você tem coragem de ir assim pro outro lado do mundo?”. Eu fui! E depois de quase um ano de ter tomado essa decisão, eu repito “o tempo passa muito rápido”. Lembro quando sentei na minha cama e comecei a escrever sobre tal necessidade de mundo. Era eu, uma música do The XX, uma borboleta que se aconchegou na minha janela e a emoção de ter reconhecido a hora. Parei pra ler pra minha prima outro dia, ela me abraçou e choramos juntas, “vou sentir saudade”. Tente perguntar à um intercambista como foi sua experiência. É sempre difícil falar. Eu sabia de certa forma que seria assim. Eu que sempre amei escrever. Acabei por me envolver ainda mais com aquela cidade. Ah, Melbourne. Cheguei e você foi tão fria. Mas sua beleza não me prendia em casa e nem me fez recuar. Sua arte e alma encanta até quem insiste em mostrar desinteresse. Uma cidade que pulsa. Confesso aqui entre nós que foi completamente diferente de como eu pensava. E de um jeito muito gostoso, surpreende. Aquece ainda no inverno com seus -2 que me faziam agradecer por enquanto voltava do trabalho da Windsor, passando pela Southbank ter aqueles fogos em frente ao Crown Casino que dava uma amornada hahaha. Ser turista é diferente. No começo foi o que fui. O olhar impressionado. Que a cada esquina faz uma parada pra foto. Mas depois vira uma parte do todo. Austrália não foi nem de perto o que eu imaginava. Trabalhei com o que nunca pensei em fazer. Acordava às 5 sempre para lhe escrever em seus detalhes nossa crônica narrada e trilhada. Aumentei o som num ritmo progressivo. E fui ficando. E te descobrindo tão eu. Em cada graffiti, barzinho e café. Em cada parque, botânico e stop de tram. As pessoas que ali conheci. E em tantas me deixei e em várias me encontrei. Algumas levei e ainda carrego. Ah, quantas risadas. Mãos dadas e choros de despedidas. E essas não foram poucas. Essa coisa de conhecer gente do mundo inteiro que é como você, um curioso com prazo de volta ou prosseguimento (essa palavra existe?), é um teste emocional que ainda não passei. Sério! Você vai, se envolve, cria memórias incríveis com a pessoa, viram grandes amigos e se vão. No começo mesmo da minha viagem ainda, eu tinha tantos amigos. Mas chegando nos últimos meses, só tinham alguns próximos de verdade. (Não é nenhuma reclamação, fui muito feliz em todos os momentos com os poucos que eu tinha, descobri inclusive que independente do próximo passo de cada um de nós, nos mantemos família. E nessa brincadeira de despedidas a gente vai ganhando uma casa em cada parte do mundo e a minha já tem uma placa de “bem vindo” em várias línguas. Mas pra resumir, porque se deixar esse texto vira livro com potencial pra filme, minha vez de dizer tchau chegou. E uma vez conversando com um amiga, eu a disse uma coisa sem muito pensar e depois aquilo ecoou em minha cabeça. “É viver como se fosse o protagonista do próprio filme e somos. A gente faz o nosso roteiro. E eu quero ter um filme em que eu compraria o livro, iria na pré estréia e ainda pagaria mais caro pra assistir em 3D na sala VIP, compraria o DVD depois pra assistir e dar replay e me daria um Oscar. É assim que quero viver. Escrevendo minha própria história, vivendo”.
Austrália foi minha casa. É meu lugar. Uma parte do meu coração ainda bate forte por lá e sempre irá. Lá realizei vários sonhos. Conheci pessoas de vários lugares do mundo. Fiz amizades que sei que levarei pra vida. Viajei sozinha, eu e meu mochilão. Entendi porque meu primo não voltou, e matei a saudade dele que agora já levo comigo de novo. Fui saudade. Sou saudade. Carrego e a espalho comigo. Morei sozinha. Trabalhei pesado pra me bancar. Consegui um pouco de independência. Viajei mais. Sai sozinha. E muito bem acompanhada. Descobri em quem posso contar. Fiz aula de surf. Conheci a pontualidade hahah. E também a cozinha de vários restaurantes. Aprendi a reconhecer sotaques e a canta-los. Mergulhei em Great Barrier Reef. Participei do sonho de uma pessoa que amo. Fui nas quartas de finais do Australian Open. Assisti o pôr do sol de vários cantos e ângulos. Tive uma praia de quintal. Aprendi a gostar de academia (essa por mais difícil de acreditar, juro ser afirmação verdadeira). Fui dona de casa. Fui casa de emoções e amizades. Me vi reflexo dos meus pais e o orgulho que me enche ao falar deles. Descobri o amor. E o tive comigo bem pertinho depois de tanta distância. Aprendi que cada língua tem seu ritmo e sonoridade. Me encantei ainda mais pela língua inglesa que hoje é ponte pra tanta cultura e comunicação. Me apaixonei por arquitetura e ainda mais por comunicação. Me envolvi ainda mais com a música. Ganhei um violão e um avô. Mas também perdi um. Aprendi que distância é uma coisa que dá pra contornar. Uma mensagem, uma ligação ou com um passagem, ainda que só de ida. Me descobri nas pessoas, nos olhares, na rua. Redescobri um amor enorme pelas pessoas e suas histórias. Hoje embarquei pra Nova Zelândia, em breve estarei à caminho de Santiago e então, chegarei em uma das minhas casas. Hoje acrescento no meu roteiro: aos 20 anos, descobri a vontade de mundo. A jornada não para aqui. Mais uma das escolhas. Minha mala. O avião. E a passagem na mão. Esse deixar-se levar, se permitir realizar. Caminhar. Prosseguir e dar novos cenários ao roteiro. A curiosidade amplia e sente fome. Sou gratidão. Por cada pessoa que conheci nessa primeira parada, por cada “te encontro na Fed”, por todas as vezes que me perdi mesmo usando o app que indica certinho como se encontrar em VIC hahahaha. Ah, Austrália. Um dia eu volto! Aos que antes questionaram o timing da primeira decisão: “o tempo passa rápido”, mas ainda dá tempo de alcança-lo. E daqui pra frente é só andar lado a lado e de mãos dadas.








