Na Hora Certa

Trilha sonora: How To Save A Life – The Fray. 
“Magrela, lembra que eu falei que as pessoas dizem que o mundo é pequeno sem conhecer, quando na verdade é a cidade que é pequena? Pois bem, preste atenção nas próximas palavras pois elas não costumam aparecer muito. Eu estava errado! Cara, a cidade é enorme. Meu treinamento na Zona Leste me mostrou isso. Tanta coisa diferente, tanta gente nova, e tudo na mesma cidade, mas parece um outro lugar completamente diferente. Em vista disso, segue atualização. Não é a cidade que é pequena, muito menos o mundo. São os nossos olhos que são tão pequenos que não conseguem enxergar a grandiosidade disso tudo. E quanto mais a gente conhece, mais nossa visão se expande. E cada vez mais conseguimos enxergar além, percebendo o quão pequenos somos comparados à isso tudo”. Acordei com essa mensagem do meu primo. Um bom jeito de começar um dia que você sabe que se lembrará e contará aos outros com saudade. É engraçado quando o dia já planejado distorce um pouco o caminho graças à espontaneidade que por vezes dá as mãos pra sincronicidade. O “se vira nos 30” sempre contribui para deixar a história com um toque diferente, e claro, a gente sente. Colocamos nosso cem por cento ali. 
Acordei mais cedo. Formatura do Welcome. Ele que sempre coloca sorrisos em tantas faces, merece o maior de todos. É difícil presentear alguém. Ainda mais aquele que tanto merece. Parece que nada é suficiente. Ele dizia que as duas últimas semanas na escola foram difíceis por eu e minha amiga não estarmos mais lá. Achou que seria aquela chatice a graduação. Mas lhe afirmamos “estaremos lá!”.
Sai de casa correndo com meu primo, precisamos de balões. Rua lotada. O que acontece? A resposta? Os trams não estavam funcionando! Saímos correndo na chuva até o QV, passamos no Big W. Cadê esses balões? Vai corre! Temos que encontrar a Recife na Spencer. Ufa, achei! Agora corre! Não vai dar tempo! Acelera! O trem tá funcionando pelo menos, de Melbourne Central até Southern Cross. Ei, ela disse que estaria em frente à Typo. Cadê ela? Comentou que estava ficando sem bateria no celular! Faz assim: vai por aqui e eu por lá. Telefone toca: achei, vem pra cá! Ae! Precisamos de um presente agora! Rodamos a Spencer. Várias ideias, mas o tempo corria mais rápido. Que horas começa? “11:45”. Ok, são 11:10! Vamos ai! Compramos o presente. “Vi um cartão escrito ‘you are the best’ igual ele sempre fala, vamos pegar e já corremos pra escola”. Lá fomos nós! Meu celular dá sinal de vida. Era o Welcome dizendo que estava com frio na barriga, “10 minutes”. Oi? DEZ? Gente, 11:45, certo? “Acho que era 11:30, ein?!”. QUE? Não brinca!? Sério? “Ei, relaxa! Começa às 11:45 sim”. Gente, o Welcome ligou! Liguei de volta e ele não responde! CORRE! 
A chuva aumentando. A Recife correndo de salto. Meu primo com duas bexigas em cada mão e uma na boca com o óculos todo molhado. Eu já sem fôlego, correndo e tentando encher mais bexigas. “Galera, liguei pro meu amigo, começa às 11:45”. Ufa! Demos uma parada. Olho pro relógio, “11:40”. CORRE DE NOVO, CINCO MINUTOS! Ele deve estar achando que não vamos mais. Depois da correria. Chegamos na hora. Ensopados. Todo mundo perguntando o porquê daquilo. E a gente sorria sabendo que ele ficaria feliz. Entramos na sala, todos os professores e alunos da escola. Welcome sentado lá na frente esperando ser chamado. Quando nos viu encarou o chão. E eu sabia que ele evitava nos olhar pra não chorar. Sorrio de canto. E a gente já chegou fazendo barulho. Jeitinho brasileiro. E ele foi o último a ser chamado. O professor elogiou a carisma. E a escola inteira gritou. Esse é o poder da simpatia. Você sorri e o mundo inteiro sorri de volta. E o professor perguntou se ele queria dizer algo. Os olhos se encheram de lágrima. Se aguentou. Disse que aqui, diferente dos outros lugares que já teve o prazer de ir, conheceu pessoas incríveis. E começou a agradecer. Até que ele para e cita meu nome e da Recife. Choramos junto. Começou a bagunça. Galera gritando. Estourando bexiga. Como nunca tinha visto nas sextas feiras de formatura. Hahahaha. A coordenadora veio e comentou sobre o dia da prova em que ele quase foi eliminado pois queria abraçar todo mundo antes hahahaha. Depois disso uma garota veio e lhe disse “não te conheço, mas pelo visto esse carinho todo é merecido e o abraçou hahahaha. Meu irmão mais velho. Oh garoto do coração grande. Começaram as fotos. Se sentiu artista. Ele pediu pra irmos pra sala onde estudava. Veio com chocolate e uma cartinha pra mim. Cara, num me faz chorar não! Hahahaha. Tiramos fotos do último dia juntos no lugar que nos conhecemos. Aquilo soava tão nostálgico. E já tinha se tornado saudade ou “saudadgi” como ele diz. 
Fomos juntos almoçar no Groove Train. Encontrei grandes amigos aqui. E tudo soava lembrança. Parecia filme. 
Fomos cada um para suas casas. Era tempo de se arrumar. Mais tarde, corri pra Southern Cross me encontrar com o Welcome. De lá, fomos pra Watsonia pra festa de farewell da Recife. No caminho, o meu amigo perguntou sobre a surpresa que fizemos pra ele e disse que recusou em pensar que não iríamos pra formatura, mas que estava preocupado, todos perguntando se iríamos e nada da gente. Mas que algo lhe dizia que não perderiamos o momento. “Vocês chegaram na hora certa! Se tivesse sido um pouco antes ou depois não seria a mesma coisa!”
Chegamos na festa. E então entendemos o porquê ela insistia em morar tão longe da cidade. Que galera boa! Um grupo de amigos, todos australianos, me lembraram aquelas séries tipo How I Met Your Mother e F.R.I.E.N.D.S. Ela se deu tão bem com a família da homestay que depois se mudou com o irmão mais velho, que por sinal é a perfeita tradução de carisma e simpatia. A amiga e irmã com o maior vozerão e jeito pra violão pararam a festa. Festa toda organizada pelos amigos. Então as surpresas! O álbum de fotos. Os presentes. A retrospectiva e vídeo feitos pelo namorado que já a esperava no Brasil. Oh, Recife! Tu merece, moça! Foi massa! Um cheiro pra ti, como tu mesma diz! Hahaha. O Welcome não segurou o choro. “Ah this crazy girl, I will miss her”. Entregamos o presente do Welcome. Ele todo bobo, veio pro abraço. Que sorte achar pessoas assim que se entregam e sem medo são o que são!  Conversei com os amigos. Dançamos do jeitinho australiano hahahaha. Entre as piadas e risos, nem vimos a hora passar. Mas era hora! O mister simpatia nos arranjou um táxi. Nos despedimos (parte um), amanhã é dia de mais choradeira. Eu e o Welcome entramos no táxi. Impressionados. “Now we know why, this is a big family”. Hahahahaha. Tá com fome? Chegando na City, fomos pro Hungry Jacks. Com um abraço apertado, fomos pra nossas casas. 
E no final de tudo à mensagem do meu primo eu só acrescentaria um detalhe. Apesar da grandeza não caber em nossos olhares, a curiosidade quando acompanhada da coragem e vontade faz viagens e carrega em nós o mundo inteiro. E vamos crescendo junto em meio a esses tantos encontros, despedidas e reencontros. Te vejo amanhã ou quando for a hora certa 😉 

Por Amanda badrie

Profissional de marketing e comunicação, movida por transformar ideias em movimento e conexões reais. Criadora do C+, Na Dosagem Mais Coragem, para ser um espaço para quem acredita que viver é um ato de coragem.

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