Trilha sonora: The Middle – Boyce Avenue
Pode entrar. Desculpa a bagunça. É que estou de mudança. É, eu sei. Já faz tempo que as coisas estão empilhadas. É muita coisa que já foi guardada. Outras deixei separadas. Podem servir pra outro alguém. Opa, cuidado! Isso é frágil. Devia ter sinalizado. É que é tanta coisa que não me atentei nesse ponto. É tanto papel. Muitas lembranças. Já enchi boas caixas. Encaixa. E me demoro no que acabo encontrando. E reviro os cantos. Encanto. E me avalio o tanto que já foi vivido. Relembro. Descanso. Mudanças. Andanças. Pega minha mão e me chama pra uma dança? E a bagunça vira outra. Troca o disco. As cortinas. A cor das paredes. A vista da janela. E tudo fica vibrante. Empolga. E me deixa vidrada. Tipo turista. Quando tudo tem um gostinho novo. Especial. Lembra a sensação de uma nova paixão. A curiosidade. As descobertas. A sede. A chama. Ah, a gente ama. Essas mudanças. As novas danças. Quando nada é coreografado e vira improviso. Sentido. Cada gesto. Movimento. Intenso. Clama. Meu nome. Eu atendo. Tá aí? Alô? E correspondo a qualquer sinal. Aceno. Continuo no ritmo. Segue o fluxo. Sinal verde. Acelera. Se não acompanhar, tu fica pra trás. E engata a primeira marcha, segunda, terceira. Já falei que tenho algo com o número seis? Tenho quatro nomes, todos com seis letras, a diferença de idade entre eu e meu irmão e ele pra minha irmã é de exatos seis anos. E nem preciso dizer o andar de casa, né? Sobe ai que continuo a teoria! Mas ai a gente pinta o sete e perde as horas proseando sobre o que você queria ser quando crescer. E a gente escreve uma carta juntos sobre como nos imaginamos daqui seis anos. Ponto e vírgula. Novo parágrafo. Novo capítulo. Adoro essas músicas que misturam os estilos, meio hip hop com jazz. Nossa, na minha próxima casa quero ter um piano no meio da sala. Não, não sei tocar piano. Mas tá na listinha pra uma próxima versão de mim. Ah, a sala é de uma casa na praia e na garagem minha kombi amarela e azul com o som hip hop jazzie e as pranchas empilhadas prontas nos esperando… Um dos parágrafos mais importantes da carta dos seis anos adiante que me aguardam. A gente se renova. Eu nem sei se lembra mais de como eu era quando me conheceu. Eu não lembro. Foram dois países, sete casas, uma considerável quantidade de idas e vindas, sem contar as caixas. Essas com cada vez menos coisas dentro. Aprendi que o que importa não ocupa espaço. Perdão pela bagunça, a gente tá em constante mudança. E o dia que você entrar por aqui e estiver diferente disso, te convido pra bagunçar tudo de novo comigo! Você vem?