Próxima Estação

Trilha sonora: Taro – Alt J. 
Lembro de quando eu li “O Pequeno Príncipe”, e aquele trecho ficou na minha cabeça “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Eu tinha 14 anos. Não tinha compreendido direito. Não moro mais onde sempre vivi. Sai da pequena grande cidade. E cai de cabeça no grande pequeno mundo. Hoje tudo me cativa. A cada passo, uma escolha. Abrir mão de algo por uma vontade maior, a de continuar sonhando acordada. As responsabilidades se triplicam. A gente se encanta e cativa. Quando nos veremos de novo? No próximo trem, espero! Eu cresci. A rotina me alcançou. A gente ainda brinca de pega pega. Eu tento fugir, mas ela sempre me acha. Me aperta e eu fujo de novo. Às vezes sou eu quem a procuro, bom ter onde encostar a cabeça e descansar. Se sentir em casa. Aquele sentimento de pertencimento. Tão contraditório. Já não pertenço mais à minha casa. Mas também sou turista aqui. Me sinto em casa em qualquer lugar, mas sou turista em todos, sou viajante em qualquer lugar, sou uma parte do todo. Reconhece esse trecho? São tantas as histórias. A saudade bate na porta. Deixo entrar? A rotina me acelera. Tá na minha hora. O fuso grita e confessa “tá longe”. Me encontra? Hoje ou amanhã? No meu horário ou no teu? Que horas? Tá ocupado? Alô? Tá aí? E viajo! Cadê todo mundo? Oi, tô aqui! Mas não sei até quando! Quero tanto! Quero o mundo! Queria poder estar em dois lugares ao mesmo tempo, ou juntar todos os continentes igual na Pangeia antiga. Bons tempos. Nossos caminhos se cruzam. Uns vão, outros vêm, os que ficam, os que bordam um retalho, deixam você costurar um pouco no deles e partem com sua presença. Tem aqueles com quem nos encontramos. Tem aqueles em que nos encontramos ao se encontrar, um no outro só pelo olhar. A gente se perde e se ganha a todo momento. Isso me lembra meu amigo, ele que ama tirar fotos, costuma apagar a maioria depois “eu vejo, guardo na memória e apago! Saudade dói!”.
Qual o preço dos bons momentos? E das escolhas? Pesa! Arde! Mas também eleva! Encoraja e recarrega! Vibra! Emociona e nos lembra, somos humanos! Erramos acertando e acertamos às vezes ao errar! E o que fazer com o que te cativa? E o que tu cativas? Encanta? Leva na mala! Joga fora? Aperta que cabe mais um! Igual coração de mãe! Mas calma, não aperte! Sem sufocar. Dê espaço! Respira! Tem que ter conforto fora da zona de conforto! Tem que ter cor nos dias cinzas. E risos entre as lágrimas. Certos momentos custam caro, a preço de uma saudade que dá vontade de voltar no tempo e faz querer o agora pra sempre, sente? Quero meu troco em poesia e momentos para eu sempre ter o que contar e escrever. E ser. Eu sou. Tu és. Nós somos e voamos atrás do que nos dá asas. E voa, mais alto! Cada vez mais. Mas pra isso, a mala não pode estar muito pesada. Então, as escolhas… Não vale ficar sobre o muro. Nem mesmo jogar a moeda pro alto e ver se dá cara ou coroa. É questão de agora, ou amanhã pode ser tarde ou a rotina pode ter te entregue ainda maiores responsabilidades que te ocuparam e não deixaram entregar e concretizar no prazo. Rasgar o contrato? Seguir? Que caminho? Acenda as luzes! Preciso de conselhos! Ouça o coração! Seja mais racional. Pense bem. Todos disseram. Usei mais de vinte segundos. A coragem vem e vai. Cativa e abandona. Faz umas visitas. Abre a porta, se esparrama no sofá e parece que nunca foi embora, e sempre esteve a me acompanhar. 
Tem lugar que vou e me fez pensar. Sinto e sou essa exteriorização do que tá aqui guardado. 
Igual o lugar que fui hoje. Acordei cedo. Me encontrei com uns amigos. E fomos até Belgrave Railway e lá fomos até Lakeside, passeio de Puffing Billy Railway. Que vista! O cenário que nos dava o papel de protagonistas de um bom filme. E que roteiro! A companhia ajuda! O vento no rosto. De pernas pro ar. A paisagem que faz pensar e cala. Aquieta. Aquece. Faz pensar no caminho lá na frente. A família. E o trem continua. E a gente segue. Meu amigo Welcome aprendeu ainda mais sobre o Brasilzão, saiu de lá conhecendo o brazilian way, já reconhece os sotaques, “que isso novinha, que isso?”, “de nada”, aquele “hi” antes da nossa musiquinha que fez a risada durar o caminho inteiro de volta. A amizade que faz valer a pena sentir saudade. E como uma música, deixaria no replay por um longo tempo. Só pra estender esse sentir. E estica. Voltamos. Meu amigo quebrou o galho mais uma vez, tudo pronto pra passar frio. Me ajudou enquanto eu corria pra casa, dava um alô pra galera italiana e australiana, peguei as malas e me encontrei com ele! O sorriso em forma de gratidão. “Boa viagem! Aproveita!”. No relógio, o agora! Tá na hora do meu trem! Parti. Próxima estação, Tarneit! Aquele trem cheira partidas e reencontros. Soa nostalgia. Vibra diferentes histórias e bagagens. O pensamento pede tempo, ultrapassa. Vai longe! Viaja! Cheguei! Família! Bom dia! Ainda já de noite! E o caminho persegue, segue a trilha improvisada, cria e reinventa. Matei a saudade da Alpha, já chegou pulando em mim! Sai pra jantar com meus primos. 
Schnitz fez a noite mais feliz! De volta, um filminho pra fechar. Amanhã o dia começa mais cedo! E o trem continua a trilhar. E que responsa essa de cativar e se encantar, seguir o caminhar. Próxima parada? Não sei! Mas te vejo lá! 

Por Amanda badrie

Profissional de marketing e comunicação, movida por transformar ideias em movimento e conexões reais. Criadora do C+, Na Dosagem Mais Coragem, para ser um espaço para quem acredita que viver é um ato de coragem.

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