Trilha sonora: Sleepyhead – Passion Pit.
Era uma vez meu último dia com dezenove anos que por sinal começou com um sentimento engraçado, de fato cômico! Me senti tão criança. Como assim estou com um pé nos vinte? Não é possível. Quem engoliu o tempo? Eu pisquei, cresci alguns centímetros, me colocaram carteira de motorista nas mãos e logo peguei o avião. Mais perto dos trinta que dos dez, isso assusta! Calma, tenho um dia ainda com esse decimal.
Acordei de bom humor. Criança acordou feliz. Apesar de não ser fã de aniversário, existe um sentimento bom de olhar pra trás e ver onde chegou e toda a jornada colecionando risadas e amores, curiosidades e tantas cores. Um sentimento de sentir-se o próprio mundo e se sentir amada e amar de volta.
Fui trabalhar. O sol brilhando. O dia tava diferente. Tão colorido. As pessoas puxando assunto. Tão leve que flutuo. A waitress nova, a guria de comunicação do restaurante tecendo vários comentários e conselhos. Anotei tudo. Deu minha hora. Quero sol na pele! Sentir o calor do mundo. Pra onde tenha sol, me deixe onde tenha luz. É aquela vontade de abraçar todos e correr pra sentir o vento no rosto. Quando você deixa o tempo correr e te atropelar ou quando tu corre e atropela tudo. Sentei na Fed Square e ao invés de tudo isso, passei a admirar essa correria de lá pra cá. Parece conto. Obviamente história, mas verídica, nada fictícia. Tenho testemunhas. Passei no 7 Eleven, comprei meu muffin e chocolate. Ali fiquei sentada. Olhando aquele céu azul. Dia tão bonito que todo mundo luta pra achar um cantinho pra sentar. E me senti tão pequena no meio daquele imensidão. A singularidade entre tantas personalidades individuais. Tão menina, criança que brinca de encontrar desenhos nas nuvens, mas com as responsabilidades de morar sozinha do outro lado do mundo e enfrentar as escolhas do dia a dia quando a liberdade é tão grande que te deixa perdida. Que porta abrir? Que trem pegar? Que destino seguir? Que voz escutar? Alô, alguém na linha? Consciência? Intuição? Decisão? Liga pra coragem, me reserva vontade e bastante saudade daquelas que fazem continuar e criar ainda melhores momentos para estimular. Entende?
Olhei para os lados, as pessoas prosseguiram. Também já devo indo. Meu trem logo chega. Sai correndo e atropelando o tempo, mas sem tanta pressa, assim contraditório mesmo, só pra sentir o sol me beijar como o pai que cuida da filha, como o casal apaixonado que adia a despedida. E fui com a trilha sonora. A música que me fazia andar em ritmo. Os olhares questionando. Preciso concluir mais uma década feliz com sorriso no rosto, me dê licença? Obrigada. Sorriu junto. Felicidade é contagiosa e tenho dito. “Heeeeello!”, cheio de “e” mesmo! Estica a estima e coloca ela lá pra cima. Quando você quer o bem, atrai o bem bem pra perto. Quanta gente feliz me cercando. Um pai com seus filhos pequenos foram os primeiros a chegar. As crianças querendo brincar e eu já pronta pra entrar na brincadeira. Galera falando espanhol e tentando um portunhol pra fazer graça. O grupo de senhores amigos que usaram o Google Translate pra tentar umas palavras em português pra agradar. “Oi bela! Tudo bem, bonita?”. Thanks, mate! Hahahaha. E um dia de trabalho vira encontro de amigos e festa. Calma, não ainda.
Surpresa! Olha quem tá ali! O meu avô! Ele que nem trabalhava hoje veio pro restaurante me esperar! “Que horas você termina hoje? Termine cedo e vamos começar a comemorar, no meu aniversário você me segurou até meia noite, minha vez de revanche!” Tá certo, falei rindo! Dez horas meu chefe chega e fala “escolhe o prato que quiser e senta lá fora que já já estamos ali contigo!”. Okay! Logo vem meu chicken avocado delicioso e meu avô com coquetel na mão. Ainda é dia 1st galera! Conversa com o vô foi meu presente. Eu nunca vou esquecer das histórias que me contou, dos segredos da vida que me ensinou e da prova que me deu que Ele existe. Obrigada pela resposta que me cedeu, foi o presente mais lindo que alguém já me deu. Eu nunca tinha visto algo tão incrível. E te digo, eu acredito de olhos fechados. “YES”. Segurou minhas mãos firme e me disse pra acreditar, vida longa e se levantou pra brindar “saúde!” Mágico como a gente veio a se conhecer e criou essa ligação tão bonita. Ele que veio morar na Australia ainda novo, morava na mesma cidade árabe dos meus descendentes, e essa não é a maior das coincidências. Sabe, minha mãe já tinha dito um dia que a gente vem a conhecer certas pessoas por um propósito. E ele me disse que é meu anjo da guarda e desde então tem sido. É obra do senhor lá de cima esse encontro ou reencontro. A verdade é que a gente sabe. Mesmo sem saber explicar. Meia noite. Me puxaram pra dentro do restaurante e começaram com o parabéns. Celular toca, era ele lá de longe me deixando com o sorriso escancarado e cheia de amor acreditando ainda mais que distância não é fator, só pra deixar claro, te amo daqui ao Brasil e mais uma volta por esse mundão. Meu chefe trouxe bolo e o staff inteiro. Me senti tão querida que não sabia nem como agradecer. Abracei meu amigo e o vovô. Minha tia me liga, oh saudade! Logo ele me vem com mil presentinhos e um potinho com cookies que ele mesmo fez. Blessed. Obrigada!
Sentamos todos ali, o vovô contando umas piadas e depois as explicando e a gente ria dele contando e achando a explicação mais engraçada que a própria piada. E ri até as bochechas congelarem e a boca secar. O abraço apertado e o carinho que transborda. Ganhei carona pra casa e o celular explodindo com tantas mensagens gostosas a ponto de merecerem ser lidas e relidas. Deitei agradecendo e que comece esse nova década. E que eu seja feliz o dobro. Parece conto de fadas, me senti Cinderela. O fato é que começou depois da meia noite. E que a magia continue. Que eu seja criança e acredite com todas minhas forças que é possível, que acontece, que sou capaz de amar mais que a gente julga ser amor. E sou. Grata. Feliz. Amada. Amando. Cantando. Danço. Escrevo. Sorrio. Vivendo. E faço da minha própria história o meu conto de fadas. Sem fim, só feliz! E sou!






