Saudações e adeus

Trilha sonora: All of the Stars – Ed Sheeran. 
“‘Saudações e adeus’. Nunca tinha pensado muito nas palavras antes, nunca pensou em por que não eram uma despedida, mas também uma saudação. Todo encontro levava a uma partida, e assim seria, enquanto a vida fosse mortal. Em todo encontro, havia um pouco de tristeza da separação, mas, em toda separação, havia um pouco da alegria do encontro.” – Princesa Mecânica (Cassandra Clare). 
Eu sempre disse que odeio despedidas. De fato! Partidas nos partem por levarem consigo um pouco de nós. Mas talvez seja um pouco de egoísmo ou ao menos um jeito muito pequeno de se pensar. 
A verdade é que nessas partidas além de tantos reencontros, é o nosso eu se desdobrando pelo mundo, mesmo o não físico. A gente vai junto. E eles também ficam. Nas fotos, nos rabiscos, nas lembranças, viram inspirações, combustível, força de vontade, lições, viram uma parte da gente! E sim, contraria à física. Bem mais de dois lugares ao menos tempo. 
Meu dia foi confuso do começo ao fim. Acordei recebendo a notícia de que o céu ganhou mais uma estrela. A despedida. Sem despedida. Não deu tempo. Não estava lá. Lembrei das últimas pesquisas científicas que li sobre estar em dois lugares ao mesmo tempo e desejei com todas as forças que estivesse ao meu alcance. Ou que SP fosse ao ladinho de Melbourne. Fui na igreja ontem e tinha pedido pra ele melhorar. E ele se foi. Ele que já sofria mais que vivia. O amor é meio egoísta. Eu pedi o melhor pra ele. Fui atendida! 
Liguei pros meus pais. Palavras de conforto, união e amor. Meu avô se foi. Mas como meu tio disse “um homem nunca morre quando consegue deixar um legado”. Meu jiddo deixou uma lição tão linda. Aquele que sempre foi tão firme, aprendeu a amar, se entregou por amor e viveu por ele. A família se uniu pra juntar as lembranças, as lições deixadas, o que virou inspiração, aquele desabafo entre os nossos. Meus olhos falaram por mim, ainda que de longe. Ele está melhor agora. Ganhou outra vida. E a gente ganhou um anjo protetor. Quando li o que meu babu escreveu, me toquei do quão a vida é cheia de esquinas e caminhos cruzados, como sem perceber, cada um que chega na nossa viagem passageira tem algo a nos ensinar e aprender, maktub. “Assim como toda verdade existe um propósito. Todo propósito existe uma verdade. A verdade é que sou todinho ele numa versão modernizada, pra falar a verdade todas as minhas feitas foram pensando nele e no exemplo que deixou e por me mostrar um lado dele de viver a vida”. E assim a gente aprende. Se despede. Lembranças. Reencontros. E encontros com sufixos. A vida e seu timing. A gente não escolhe escolher. Mas temos. É seguir. O ciclo. E quando o trem chega. Os até logo se encontram e seguem. Continua. Próxima estação. Cabeça a mil. Assim como o trem. Voa. As mensagens. As ligações. O ombro amigo. As palavras que confortam… O chocolate que adoça. Os obstáculos que desafiam. Os problemas e perrengues que nos cercam. As superações. O “tudo acaba em pizza” quando no pé da letra. 
Temos um jeito tão contraditório de ser. A gente foge querendo ser encontrado. Vamos embora, mas no fundo esperamos um “vai, fica mais um pouco!”. Respondemos que estamos bem, abrimos um sorriso pra tentar provar, segura a postura pra não mostrar fragilidade quando na verdade só faltava um aviso na testa “cuidado, frágil”. A gente não diz, mas ficamos decepcionados se não percebem. Queremos abraçar o mundo e carregar tudo nas costas quando os bracinhos só querem se esticar um pouco e vice versa. Queremos falar, mas esperamos o outro falar primeiro. Sentimos, mas melhor não demonstrar muito. E se desse, queriamos uma solução pra tudo, imediatamente, pra já, do nosso jeitinho. Se não for, tá errado. Chora. Bate pé. Minha vontade. Quem disse que era certa? Cuidado com elas! O que você pede? O que anseia? Quando você quer, pede com todas suas forças, você concentra energia ali. Saiba bem o que pedir. Qual o seu pedido? Posso anotar? Levo pro chef e o prato fica pronto em poucos minutos. Tenha teu tempo. Me chame quando estiver pronto! Quando nossas vontades não correspondem exatamente com o que nos é servido, no automático a gente reclama. Não foi isso! Tá errado! O que é errado? Qual teu ponto de referência? Na verdade, suas vontades nem sempre vão se identificar com as vontades que você precisa. Nem sempre correspondem com sua receita. Mas ainda assim, não quer dizer que não vá agradar. Experimenta. Qual o gosto? Só vai ser amargo e frio se você voltar seus olhos só pro teu! Olhe ao seu redor. Cumprimente. Divida! Troque. Compartilhe. Procure entender como foi feito e o por que daquela fome. Ainda que não comparada com a sua vontade, a fome do outro também veio em outro nome. Calma, sai do restaurante. Vai pra fora. Respira ar livre. Vai, tá de graça. Faça graça. Seja uma. Calma. Tá tudo bem! Parece ser o fim do mundo, mas é o ciclo da vida. Os altos e baixos. Os encontros e descontros. As saudações e despedidas. Ambas têm choros. Ambas têm saudades. A que vai e a que fica. A que fica pra sempre e a que volta já já. Vem, chega pro abraço! Abraça forte. Volta logo. Até mais. Nunca é um “adeus” nessa estrada. Já podemos inclusive extinguir essa palavra em que falta esperança. É “até logo”, sempre! Em algum momento, a gente nunca sabe, quem sabe? Nossas vontades não mandam, mas e se? Quer partir, ainda que eu ame e queira guardar num potinho pra proteger de tudo e todos e ainda deixar bem pertinho de mim pra todo lugar que eu vá, não é só o ar que tomei que é livre. Livre sou. Livre és. Livraria. Abre e voa. Se é melhor pra ti, apenas me leve contigo, num cantinho rabiscado do caderno, em alguma memória já não tão acessa, num espaço ainda que apertado no peito. Eu caibo? Me leva na mala. Viro contorcionista. Malabarista. Saudosista. Nostalgia mora em mim. Mas celebre, as idas e vindas. Se chegou, seja bem vindo! Open de amor e risadas. Se você se foi, eu agradeço por todos os momentos, por tudo que me ensinou e todo o legado que deixou em minha história. Uma parte de ti fica comigo! E outra minha vai com você! Faça boa viagem! A gente se vê! No céu estrelado, encontro você!

Por Amanda badrie

Profissional de marketing e comunicação, movida por transformar ideias em movimento e conexões reais. Criadora do C+, Na Dosagem Mais Coragem, para ser um espaço para quem acredita que viver é um ato de coragem.

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