Eu sempre gostei de escrever. Tagarela que sou. Não me basta apenas deixar as palavras ao vento. Eu as deito. Gosto de cartas. Daquelas escritas à mão. Sou apaixonada pelos rabiscos. Pela letra. Singularidade. Personalidade. Capricho. Pelo punho transcrito. Tem sentimento ali. E ainda que o tempo passe. Quando lido, é sentido aquele agora no atual. E o pulsar será igual, ainda que completamente diferente. Escrever tem esse poder. De eternizar. Como as fotos. Sons. Alguns aromas. Teu perfume. Que quando passa na rua, me leva pra quando eu te abraçava e meu nariz gelado encostava em tua nuca. E eu volto pro agora, me deparo encarando a rua a procura de quem me levou a essa viagem de tempo. Pra que teletransporte?! Mas como eu dizia, eu guardo sim todas as cartas de quem um dia se permitiu demorar em letras e carinho. Não me dê mais nada. Me dê cartas. Deixe se transbordar. Você nem precisa me entregar. Se afogue por 5 segundos só pra sentir qual a profundidade em que se encontra, só pra então subir à superfície e se embebedar de alívio. É bom se entregar. A si. Mesmo. Ao tempo. Ao dito pelo não dito. Eu grito. Confesso que cartas já escrevi a professores, amigos queridos, a minha família, ao futuro, passado e agora. A mim. Inclusive, pra você. Que me leu. Que me lê. E àquele também que finge não me ver. Já falei sobre a vida. Sobre a arte. Reciprocidade. Desejos. Erros. Acertos. Caminhos. Escolhas. Você. Nós. Incertezas. Interpretação. Falei até de intertextualidade. Falando de cartas entre outras verdades respondendo a minha mente em convergência ao que o peito ardia. É difícil interpretar certas situações. É difícil aceitar certos nãos. E a gente aprende. Segue em frente. Escreve mais um pouco. Cola outro selo e se entrega mais uma vez. Aos tantos. Aos prantos. As cegas. Me arranco. E me dou. Por completa. Começo. Meio. Fim. Não necessariamente nessa ordem. Cronologia reversa. Psicologia inversa. Letras. Cursivas. De forma. Desenhadas. Cada contorno. Me diz muito. Hoje endereço minhas cartas a vida. Curiosa. Pelos encontros e desencontros que proporciona. Me deixa intrigada. Saudosista. Nostálgica. Carente por mais. Tão linda. Sou sua mais afinca remetente. Você tem 5 minutos e um pouco de uma curiosidade ardente? Eu tenho uma caneta pendente. Uma folha em branca no batente. E lápis coloridos a sua escolha. Posso te mostrar um pouco do que vejo e transbordo aos planos de cada linha desta página a que falo? A gente conversa. Pluralidade. É prosa. Tem beleza. Me remete. Te destino. Eu presente. Você, instinto. Quando escrevo, então eu sinto. E vice e versa. Verso e cia. Nós. E poesia. É a vida. Concluímos. É linda. Vem, deixa eu te mostrar.
Pra você, Badá.
